Realizada em Nova York no mês de janeiro deste ano, a 110ª edição da NFR 2022: Retail´s Big Show, maior e mais tradicional evento de varejo do planeta, trouxe, mais uma vez, a oportunidade de debater a transformação que o segmento vem atravessando, além de identificar tendências em meio a um cenário que está em constante mudança.
Antes de tudo, porém, é necessário observar que já estávamos às voltas com um varejo muito diferente há pouco mais de dois anos — ou seja, antes da crise desencadeada pela pandemia de covid-19. Os hábitos de consumo, portanto, mudaram e, dessa maneira, tornou-se imprescindível reformular o relacionamento com os consumidores e fornecedores — além dos próprios sistemas de distribuição.
E o fato é que, para todos os efeitos, o segmento ainda está em um processo de check and adapt — e talvez essa seja a maneira definitiva de operá-lo daqui para a frente. Neste artigo trazemos, portanto, alguns aspectos interessantes que foram abordados ao longo do evento — assim como um vislumbre do varejo no futuro. Vamos lá:
Um novo ambiente
Muito bem — as mudanças vieram para ficar e é fundamental manter isso em perspectiva. O varejo precisa, assim, ser ágil para aproveitar as oportunidades que vão surgindo. Grosso modo, pode-se dizer que os planejamentos de longo prazo perderam o sentido — ainda que seja necessário estabelecer um rumo e um objetivo para os próximos cinco anos, por exemplo.
Deve-se considerar, no entanto, que o caminho vai sendo construído ao longo dessa jornada. Em outras palavras: a transformação não vai parar — e, segundo Brian Cornell, presidente da Target, é necessário que as empresas possuam agilidade, adaptabilidade e flexibilidade.
Cada vez mais digital
O consumidor está cada vez mais on-line — em grande parte pelo hábito de distanciamento social imposto pela pandemia. O crescimento do omnichannel e o impacto dos marketplaces trarão, assim, mais integração entre o mundo real e o meio digital. As lojas evoluirão suas capacidades para dar suporte a operações de atendimento on-line, ganharão mais personalização e proporcionarão experiências de marca mais imersivas. A identificação do consumidor será realizada no check-in do estabelecimento — e não no check-out. E a tecnologia possibilitará, ainda, o avanço das lojas não tripuladas, ou seja, que funcionarão sem funcionários para operá-las.
A liderança precisa manter o engajamento e a cultura da marca
O home office veio para ficar e transformou definitivamente as rotinas corporativas. Nos EUA, por exemplo, a expectativa é que boa parte dos trabalhadores não volte 100% ao presencial — e a tendência é que o mesmo ocorra no Brasil.
Aos gestores, contudo, caberá o desenvolvimento de habilidades que permitam exercer uma liderança autêntica sob tal cenário, mantendo os colaboradores engajados e a cultura da marca — permitindo, assim, que cada um possa fazer sua parte de maneira personalizada.
Os desafios do supply chain
O papel da cadeia de distribuição sempre foi tático, mas com a elevada inflação brasileira — assim como o desabastecimento — teve que se tornar estratégico. Afinal, a pandemia fez com que a distribuição mundial de produtos fosse por água abaixo. Uma vez que o supply chain é vital para os negócios, sua transformação traz alguns desafios — a saber:
- previsibilidade da distribuição;
- utilização de AI (Artificial Intelligence);
- mais colaboração e transparência de dados;
- mais soluções e, principalmente, inovações.
Tais mudanças também preveem, ainda, novos centros de abastecimento nas cidades, estruturados para antecipar demandas e disponibilizar produtos no menor espaço de tempo possível.
Varejo em rede
A organização do varejo em ecossistemas foi um dos temas mais abordados na NFR 2022. O modelo teve origem com a gigante chinesa Alibaba, que conectou e digitalizou pequenas lojas e varejistas independentes. No Brasil, alguns exemplos são Magalu, Via Varejo e Mercado Livre, entre outros. Trata-se, portanto, de um modelo que oferece grande oportunidade para expansão — mas é imprescindível que a inovação, experimentação e adaptação façam parte do dia a dia do negócio a fim de que seja possível identificar constantemente o que é relevante para o consumidor. Afinal, o varejo, hoje, se baseia na compreensão das necessidades do cliente e em relacionamentos personalizados.
Novas tecnologias
A tecnologia, evidentemente, será (já é, na verdade) condição sine qua non para o varejo, mas é necessário considerar a importância de atualizar arquiteturas e infraestruturas. É essencial que o varejo se prepare, tanto em sistemas quanto em pessoas, para lidar conceitos como 5G, que possibilitará aspectos como automação em centros de distribuição, carros autônomos e drones — além de aplicações no piso da loja e na coleta e análise de dados.
Esse tal metaverso
Antes de tudo, é necessário dizer que esse conceito já é realidade em games. Vale ressaltar que a interoperabilidade será um de seus pontos centrais do metaverso, ou seja, os usuários poderão passar de um ambiente virtual para outro com todos os produtos, serviços e outros elementos adquiridos na plataforma — uma vez que os registros em Blockchain das NFTs (non-fungible tokens) e criptomoedas poderão ser acessados de qualquer lugar — e isso inclui o mundo real.
Ainda que seja uma agenda para médio e longo prazo, o mercado global de metaverso, de acordo com a empresa de pesquisa Strategy Analytics, deve chegar a cerca de US$ 42 bilhões até 2026 — enquanto a Grayscale, maior gestora de bitcoins do mundo, aponta que a avaliação total pode chegar a US$ 1 trilhão nos próximos anos.
Existem, porém, algumas questões — como, por exemplo, a necessidade de planejamento e implementação de uma infraestrutura tecnológica robusta que esteja preparada para prover a necessária capacidade de armazenamento e largura de banda — além de modernização e implementação de melhorias em data centers para possibilitar a experiência aos consumidores.
ESG (Environment, Social e Governance) e DE&I (Diversidade, Equidade, Inclusão)
Mais do que nunca, os consumidores estão atentos ao papel das organizações na construção de um mundo mais justo, equilibrado e equânime — e a mensagem, aqui, é clara: é necessário que as empresas incorporem os critérios ESG e DE&I em seus princípios, valores e cultura para que se mantenham competitivas.
De acordo com estudo realizado em 2017 pela Boston Consulting Group, organizações com desempenho superior em ESG possuem margens mais elevadas de valorização de mercado — assim como maior lucratividade — em relação àquelas que não se preocupam com tais questões. Mais: os consumidores, hoje, estruturam suas escolhas (produtos que consomem, entre outras) em tais critérios.
Deve-se observar, ainda, que do ponto de vista estratégico há outro aspecto importante nesse sentido: a atração e retenção de talentos — uma vez que, especialmente para as gerações mais novas, a escolha do lugar em que trabalharão invariavelmente está fortemente relacionada com a maneira pela qual o empregador lida com minorias.
O futuro já chegou
O varejo atravessa um período de grandes e profundas transformações, como evidenciam os aspectos abordados ao longo da NFR 2022. É necessário, portanto, que as empresas e organizações do segmento mantenham em perspectiva a importância de acompanhar essas mudanças, ou seja, de estar em sintonia com as novas tendências tecnológicas e de inovação — a fim de que possam se beneficiar, ao máximo, das oportunidades que surgirão nos tempos que estão por vir.